Homo sapiens religiuns
Há algum tempo, escrevi o artigo sobre uma pesquisa da Universidade de Michigan relacionou saúde, comportamentos saudáveis e de alto risco, crença e participação religiosas. A partir da constatação benéfica da religião na saúde do adolescente, estendi as conclusões para uma antiga inferência minha, que o ser humano atual não só era um produto da evolução, mas a prática religiosa uma componente importantíssima.
Ou seja, somos descendentes de seres religiosos, faz parte do nosso “gene”. A evolução gerou seres religiosos e quem contrapõe a natureza é “punido” com uma doença e com a morte, conforme mostrava a pesquisa de Michigan. Isso significa que a religião é um item importante já que a seleção natural o está considerando para eliminar os não-religiosos. Estava “provado”, no meu entender, que poderíamos ser considerados seres religiosos.
Porém, descobri há alguns dias, que um engenheiro agrônomo da linda Florianópolis, sonho de todos nós paulistas, discordou das minhas idéias e escreveu um artigo contestando. Seria um artigo interessante não fosse o autor utilizar-se de argumentos emocionais. Confundiu Catanduva com Catanduvas, desprezou a Universidade de Michigan - talvez ele desconheça mesmo esse centro de pesquisa psicológica, e, o pior, destratou a Igreja Católica generalizando para toda a Igreja o mau comportamento de alguns padres. Só para lembrar, a Igreja tem 400 mil padres e o responsável por eles é o nosso Dom Cláudio Hummes.
E qual não foi minha surpresa ao abrir a revista Veja a alguns dias e ver a matéria sobre o biólogo americano David Sloan Wilson, da Universidade Binghamton, autor do livro “A Catedral de Darwin: Evolução, Religião e a Natureza da Sociedade”, que trata como a religião se desenvolveu na história dos hominídeos ajudando a criar grupos mais coesos e solidários. A crença foi uma arma poderosa na luta contra adversários menos unidos e menos organizados.
Para muitos biólogos evolucionistas, as religiões surgiram como uma boa adaptação do homem ao meio ambiente e prosperaram por conferir vantagens a seus praticantes. A crença no sobrenatural ajudou a convivência do grupo e, portanto, seria a gênese da civilização.
Outra indicação de que a necessidade de cultuar um Deus é resultado da evolução humana foi revelada na pesquisa do biólogo molecular americano Dean Hamer, chefe do setor de estrutura genética do National Cancer Institute, e publicada em seu livro “The God Gene: How Faith is Hardwired into Our Genes” (O Gene de Deus: Como a Fé Está Embutida em Nossos Genes). Hamer afirma ter localizado no ser humano o gene responsável pela espiritualidade. Esse gene também teria a função de produzir os neurotransmissores que regulam o temperamento e o ânimo das pessoas.
No fim dos anos 70, cientistas da Universidade de Minnesota estudaram 53 pares de gêmeos univitelinos, ou seja, gerados no mesmo óvulo e com DNA idêntico, e 31 pares de gêmeos bivitelinos, gerados em óvulos diferentes. Todos os gêmeos haviam sido separados após o nascimento e criados a distância. Como se esperava, os gêmeos com DNA idêntico, mesmo privados da convivência mútua, apresentavam traços de personalidade, comportamento e hábitos muito semelhantes. Os gêmeos idênticos eram duas vezes mais propensos a cultivar a espiritualidade no mesmo grau de seu irmão do que os gêmeos bivitelinos. Já quando se analisava a tendência a praticar uma religião, os gêmeos idênticos apresentavam significativas diferenças entre si indicando que o hábito de freqüentar uma determinada igreja é adquirido culturalmente.
Ainda não é uma unanimidade, mas já se soma uma grande quantidade de pesquisas dando suporte. Podemos afirmar que nascemos com a “marca” de Deus em nós, de uma forma (fé) ou de outra (resultado da evolução). Não crer, para nós, vai contra a natureza. Por outro lado, podemos acreditar sem hesitar no moto estimulante (Rom 8,31): se Deus é por nós, quem será contra?
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