Piscininhas também
As chuvas castigaram diversas cidades neste início de ano, como São Paulo e Belo Horizonte. A imprensa apontou diversas soluções para os graves e constantes problemas das enchentes, como o controle da expansão desordenada da cidade, a ocupação várzeas, a canalização de rios, a impermeabilização do solo e a destruição de áreas verdes. E, ainda, obras de piscinões, reformas de galerias ou aprofundamento dos rios.
Acredito que falta à discussão outras soluções já empregadas. Desde 2008, escrevo aos deputados mostrando essas experiências. Acredito que seja uma boa hora de lançar essas ideias ao público.
Diversas cidades grandes tem lei que visa aumentar a permeabilidade do solo, reservar água nos prédios, diminuir o risco de enchentes e reservar água para fins não potáveis nos empreendimentos. Mas isso é pouco.
Veja-se o exemplo da Alemanha que instalava 100 mil reservatórios pluviais por ano. O que falta para o Brasil fazer o mesmo? Decisão política, óbvio! Do prefeito e do governador! E, também, dos vereadores e deputados! Leis que obriguem os ricos, financiamento estadual e federal e descontos em impostos para os demais. É possível equipar prédios e casas em prazos razoáveis, de cinco a vinte anos.
O custo parece grande, já que equivale ao de uma piscina, mas não se deve esquecer que a economia de água para o consumidor e para a prefeitura é exponencial, pois a demanda por água terá custos impossíveis em futuro próximo, devido à distância das fontes.
A medida seria excelente para postos e lava-jatos. Qualquer casa pode ter também. A ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, publicou uma nova norma para projetos de aproveitamento de água de chuva.
Um sistema de captação deve ser bem projetado para evitar a proliferação de doenças. A água da chuva tem substâncias tóxicas e bactérias. A ingestão e o contato com a pele e as mucosas causam doenças. Por isso, deve-se instalar um filtro, um controlador de fluxo e um sifão para impedir o acesso de roedores.
Mas é caro? Um sistema residencial de armazenamento pequeno custaria cerca de R$ 1.500,00. Aproveitam-se calhas e condutores e incluem-se filtros e reservatórios.
A captação deve ser feita no telhado ou na laje, jamais no piso, pois é uma área exposta a urina e fezes de animais domésticos e a produtos como querosene. Como a própria chuva carrega a fuligem do telhado e do ar, o reservatório deve descartar os primeiros minutos de água. O tratamento deve ainda fazer a desinfecção da água, com cloro que é mais eficiente e mais barato.
Desde 2009, sugiro também, ao poder público, que estude a instalação de reservatórios para coleta das águas pluviais nas calçadas, que sejam permeáveis para a infiltração no solo dessas águas de chuva excedente para a reposição do subsolo. A prefeitura poderia construir milhões dessas “piscininhas”.
Pesquisadores da Universidade de Taubaté (Unitau) fizeram estudos e projeto de captação das águas em telhados e recarga artificial do subsolo. Em parceria com o Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Taubaté, o projeto tratou da retenção do excedente hídrico, da aplicação de métodos de infiltração das águas das chuvas nos solos ou diretamente nos aquíferos, a chamada recarga.
Muitos especialistas opõem-se à recarga pelo risco de contaminação por micro-organismos ou por materiais tóxicos. Mas o estudo mostrou que o telhado usado, bastante abaulado, construído em chapas zincadas novas, evita a contaminação dos aquíferos.
O que foi mostrado aqui representa novos negócios, que geram investimentos e empregos. Pode-se estimar, para qualquer cidade grande em mais de cinco milhões de caixas permeáveis de um metro cúbico para coleta das águas pluviais nas calçadas e dez milhões de piscininhas de um a cem metros cúbicos em casas e prédios.
Um financiador (patrocinador financeiro) natural é a autoridade que tem que buscar a água bem longe, como o próprio governo e as companhias de águas. E, claro, os patrocinadores políticos têm que estar entre deputados e vereadores. E não se pode esquecer da população que precisa ter voz ativa nesta questão.
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