Vaca louca e os transgênicos
(publicado em 27-07-2004)
Será que a preocupação que alguns grupos politizados tem sobre os transgênicos não é um pouco exagerado? Se dermos crédito à história recente de outra “revolução” veremos que não, toda essa preocupação é útil para o nosso bem-estar.
Vejamos o que podemos aprender com o mal da vaca louca. A moderna “engenharia” revolucionou o mercado ao inventar a ração feita com carcaças, entre elas as de carneiros. E isso foi muito bom e representou enormes ganhos, tanto na alimentação do gado quanto na redução dos custos.
E a Europa prosperou, até que... A epidemia de encefalopatia espongiforme bovina (BSE) ou vaca louca começou. O primeiro caso foi detectado em 1986 no gado britânico. As vacas e bois foram contaminados depois de ingerir rações compostas por partes de carcaças de carneiros infectados por príons mutantes.
O mal da vaca louca atingiu seu pior momento em 1993. Eram mais de mil casos identificados por semana. E quem foi culpado? O governo britânico é quem foi acusado de ter negligenciado o problema, demorar muito para sacrificar o gado contaminado e não ter alertado a população.
O mal da vaca louca é uma doença degenerativa provocada pelo acúmulo de um príon no cérebro. O príon é uma pequena e resistente proteína que existe nos carneiros e no homem, mas sua função nesses organismos ainda não foi esclarecida. Essa proteína atinge o sistema nervoso central do gado adulto, é transmissível e progride lentamente. As células morrem, e o cérebro fica com aparência de esponja. O gado afetado apresenta perda de equilíbrio e enfurecimento. Por isso popularizou-se como “vaca louca”.
A doença pode ocorrer também em humanos e em ovinos. Em ovinos, a doença chama-se “scrapie”. Em humanos, a doença é chamada Creutzfeldt-Jakob (CJD), em homenagem ao cientista que a descobriu na década de 20. Quando a BSE começou a afetar o gado britânico, houve casos de uma variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), que alguns cientistas associaram ao mal da vaca louca. Mais de 130 pessoas morreram vítimas da vCJD, a maioria na Grã-Bretanha.
Nos seres humanos, os principais sintomas são mioclonia, contração muscular brusca e breve, e demência. A doença se desenvolve principalmente em pessoas com mais de 50 anos de idade. Não existe tratamento conhecido
As vítimas teriam se contaminado por meio da ingestão de carne contaminada. Como a doença tem uma progressão lenta, levando até dez anos para a pessoa manifestar os sintomas, muitos acreditam que uma epidemia de vCJD ainda está por vir. Mas a ligação entre vCJD e consumo de carne contaminada não foi comprovada cientificamente.
Em 1996, um novo surto de BSE ocorreu na Europa, afetando outros países. O mesmo ocorreu em 2000, com milhares de bovinos sendo sacrificados em praticamente toda a Europa e o Japão. Mas o problema sempre foi maior na Grã-Bretanha.
O gado com BSE precisa ser sacrificado. Devido ao risco de transmissão da doença para seres humanos, produtos à base de carne ou leite de vaca precisariam ser evitados. Mas como ambas as doenças BSE e vCJD podem demorar até dez anos para se manifestarem, controlar uma possível epidemia torna-se um grande desafio para os governos.
Até o momento, Nenhum caso do mal da vaca louca foi detectado no Brasil. Mas o país enfrentou uma briga comercial com o Canadá, em 2001, quando o país chegou a vetar a entrada de carne bovina brasileira. A suspensão foi mais tarde resolvida.
Tudo isso nos mostra o quão grave é o problema da vaca louca e só porque o uso de carcaças para se fazer a ração não foi devidamente estudado. Contudo, já é o suficiente para nos fazer repensar o uso que estamos fazendo dos produtos transgênicos. Por mais que nos digam que esses produtos são inofensivos, não podemos esquecer que eram os mesmos pareceres dados anteriormente ao uso de carcaças.
Cabe ao cidadão exigir de nossas autoridades maior rigor no controle e promover uma espera razoável para que se ponha no mercado de uma forma tão abrangente como já tem acontecido.
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Os transgênicos são ótimos... Para quem?
(publicado em 02-08-2004)
Apesar de ser favorável aos transgênicos, não pude deixar de ficar horrorizado com a revelação que milhões de pessoas no mundo consomem produtos transgênicos há anos, não apenas soja mas também mamão, melão e batata.
Meu Deus! Sim, apelo a Deus, já que as autoridades, os agricultores e os cientistas não tiveram nenhuma Ética em nos revelar o que consumimos. Talvez caiba à Igreja clamar pela Ética no assunto.
Quando analisamos uma nova tecnologia, como os transgênicos, devemos fazer nossas considerações, principalmente, do ponto de vista econômico, social e ambiental. E com critérios sérios, já que, por enquanto, a ciência não faz milagres... A Igreja agradece!
É possível que em alguns anos não possamos dispensar essa tecnologia, porém, até que isso aconteça, devemos pensar, enquanto nação, se devemos ser pioneiros ou não.
Por que? Uma pesquisa feita entre os britânicos, durante seis semanas, envolvendo 37 mil pessoas, concluiu-se que quanto mais informações se têm sobre os alimentos transgênicos mais eles são contra. Isso deve valer para o resto da Europa. A pesquisa foi conduzida pelo professor Malcolm Grant, responsável pelo GM Debate Board, e recebeu 500 mil libras do governo.
Em maio último, a Monsanto suspendeu seu projeto de trigo transgênico, mesmo tendo gasto alguns milhões na pesquisa durante os últimos seis anos. A Monsanto avaliou que esta tecnologia representa vantagens para apenas um segmento dos produtores de trigo e o Japão, o principal comprador de produtos agrícolas americanos, já havia anunciado a intenção de não comprar trigo geneticamente modificado.
Não vamos esquecer a vaca-louca e os ganhos representados pela ração feita com carcaça. Muitos estudos atestaram a segurança e viabilidade econômica disso. Só para lembrar, nos Estados Unidos, quem esteve na Europa naquele período está proibido de doar sangue. É o reconhecimento oficial do perigo.
Com isso já podemos especular se é interessante para o Brasil “manchar” o gigantesco celeiro nacional ou então se devemos ser o principal fornecedor para aqueles que não querem transgênicos. Que falem os economistas.
A própria Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) posicionou-se favorável aos alimentos transgênicos pois podem beneficiar os pobres. Mas esses ganhos não estão garantidos. Para a FAO, nem o setor privado nem o público têm investido o suficiente em culturas básicas como mandioca, sorgo, arroz, trigo e batata.
A FAO observa que apenas seis países (África do Sul, Argentina, Brasil, Canadá, China e Estados Unidos), quatro culturas (milho, soja, canola e algodão) e duas características (resistência a insetos e a herbicidas) correspondem a 99% da área plantada com transgênico. Por enquanto é uma tecnologia que beneficia as grandes corporações. Milhões de dólares em jogo, né defensores?
E de nada servem milhares de estudos que “provem” que os transgênicos são bons... Uma única pesquisa realizada na Grã-Bretanha durante três anos e publicada na revista Philosophical Transactions of Royal Society: Biological Scienes, a maior já realizada no mundo, mostrou que duas entre três plantações com sementes geneticamente modificadas apresentaram mais perigos para a fauna que os seus equivalentes convencionais.
As duas plantações com problemas eram as de oleaginosas (colza) e de beterraba. A terceira plantação, de milho, ao contrário das outras, se mostrou mais benévola aos animais e as plantas do que nos plantios convencionais.
A FAO não deixa de alertar que o uso dos transgênicos deve ser avaliado caso a caso. E ainda deixa claro que a falta de evidências sobre efeitos negativos não significa que sejam isentos de risco. Os cientistas concordam que não se sabe o suficiente sobre os efeitos em longo prazo.
Entre as grandes preocupações envolvendo a segurança alimentar dos transgênicos, segundo a FAO, estão o risco de provocar alergias, a presença de substâncias tóxicas e uma possível transferência de genes para o organismo humano (cruz credo! Deus me livre!). Estudem mais um pouquinho!
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