Verdade inconveniente e urgente

 (Publicado em 08-03-2003)

Enquanto o filme do Al Gore vai fazendo um sucesso necessário, despertando consciências, os brasileiros que moram no sudeste tem ainda mais motivos para ficarem aterrorizados. Isso porque temos a doce ilusão que pouca responsabilidade temos e quase nada podemos ou devemos fazer. Porém, ao contrário do que acreditamos, antes de afetar o mundo, a Amazônia afeta e muito o rico estado de São Paulo.

O desmatamento da Amazônia, principalmente através de queimadas, é feita para implantar campos de cultura de soja e para a criação extensiva de gado. O desmatamento acelerado, segundo os cientistas do INPE, causará um grande impacto para o clima de toda a América do Sul, transformando o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil em um grande deserto. Isso porque grande parte das chuvas de São Paulo e Brasília é devido à umidade da Amazônia. As árvores retiram água do solo amazônico através de suas raízes de até 18 metros de profundidades e umedecem o ar pela transpiração das folhas. Sem floresta, sem umidade, sem chuvas no Sudeste.

Pesquisas mostram que o brasileiro é consciente dos perigos do aquecimento global e dos problemas ambientais geradas pelas queimadas. A mídia brasileira tem atuado bem na cobertura do evento. Porém, pouco se vê como resultado prático, pouca movimentação dos políticos em fazer alguma coisa.

O Protocolo de Quioto estabelece reduzir em 20% as emissões de CO2 até 2020. Precisamos estimular inicialmente a economia de energia, somente isso já reduziria em 15% as emissões. Temos tecnologia para isso, precisamos usar em grande escala. E temos as energias renováveis, como álcool e biodiesel, solar, eólica, gás de lixo. Precisamos substituir o carvão mineral, o petróleo e gás natural. Precisamos do Congresso, de leis que estimulem e isentem novas tecnologias renováveis, promovam eficiência e punam as não-renováveis.

O problema é vasto e conflitante com muitos interesses econômicos. Está na hora do brasileiro tomar medidas mais duras. Precisamos conscientizar os políticos da urgência da situação. O país precisa de leis duras, muito duras. Chega de multas, precisamos de leis que protejam as florestas como a lei que protege a fauna. A partir de 1988, a Lei n.º 7.653, tornou todos os crimes tipificados na Lei de Caça (Lei n.º 5.197 de 1967) como inafiançáveis.  

Lembro-me, como se fosse hoje, muitos caipiras que caçavam para comer, fazia parte da cultura, foram presos sem direito a liberdade. Foi triste mas funcionou, a devastação de passarinhos que assistimos nos anos 70 acabou e, hoje, vemos passarinhos até nos grandes centros urbanos. Se quisermos proteger todo o Brasil abaixo da linha dos 20º, temos que prender do mesmo jeito. Do contrário, estaremos condenando quase cem milhões de brasileiros a morte lenta e dolorosa.

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Dia de Salvar a Terra

(Publicado em 20-04-2007)

Em 22 de abril, celebra-se o Dia da Terra. Em 1970, o Senador norte-americano Gaylord Nelson convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição. A partir de 1990, outros países passaram a comemorar também.

Agora é a vez de outro americano. Al Gore, até então conhecido como vice de Bill Clinton (1993-2001) e o que perdeu por pouco a presidência dos Estados Unidos para George W. Bush (2000), escreveu o livro “Uma Verdade Inconveniente” que mostra a ameaça do aquecimento global. O livro virou um documentário que tem o mesmo nome e tornou-se mundialmente famoso.

O filme, de Davis Guggenheim, ganhou o Oscar de melhor documentário. O documentário é também chamado de ''o filme de Al Gore'', pois mostra as palestras e luta de Gore contra o aquecimento global e é o narrador do longa-metragem.

Na ocasião, Gore declarou: “meus compatriotas americanos, povo de todo o mundo, temos que resolver a crise ambiental. Não é uma questão política. É uma questão moral”. E, de fato, temos que resolver, e urgentemente, pois o futuro dos nossos filhos depende disso.

O filme tem um grande chamariz, mistura fatos científicos com a humanidade do apresentador, seus dramas pessoais influenciando no defensor do meio-ambiente que se tornou. É uma peça de conhecimento e convencimento. Talvez seja por isso que ele comece a aconselhar todo mundo a, em primeiro lugar, aprender tudo o que puder sobre a crise do clima antes de pôr o conhecimento em ação.

Sem dúvida alguma, o ponto alto do filme são os dados da Antártida. Neste continente, o gelo nunca degela. Todo ano, graças à neve que cai, uma nova camada se forma aprisionando junto com a água, partículas da atmosfera. Assim, pode-se, hoje, conhecer o que continha na atmosfera e saber a temperatura do planeta até 650 mil anos atrás.

Dessa forma, os cientistas, traçaram um gráfico relacionando a quantidade de CO2 e a temperatura. Isso mostra as Eras Glaciais com as baixas de CO2 e o aquecimento com o aumento de CO2 na atmosfera. Por 650 mil anos, o nível de CO2 nunca ultrapassou 300 partes por milhão (ppm), hoje, está em 380 ppm. A previsão é de que, se nada for feito para reduzir o seu aumento, atingiremos o índice de 530 ppm em 2050. Quanto a temperatura vai subir? Esperemos que a proporção não seja equivalente ao último meio milhão de anos.

Outro dado surpreendente do filme é a quantidade de artigos científicos tratando do aquecimento global, quase mil. Nenhum negando o aquecimento. Já nos jornais, escritos por gente leiga no assunto, mais da metade do que foi publicado duvida do aquecimento.

O documentário pede que se encorajem todos a ver esse filme. Mesmo porque Al Gore doa os lucros para a divulgação. E esse é o caminho, conscientizar cada cidadão para que se atinja a classe política. Precisamos reduzir nossas emissões de carbono à zero. Como? Muito pode ser feito, individualmente e também com incentivo governamental.

Podemos usar aparelhos elétricos mais eficientes e lâmpadas econômicas. Melhorar as casas, aumentando a insolação, reaproveitando a água do banho para descarga em sanitários, aproveitar a água da chuva.

Exigir que as empresas de transporte usem ônibus e caminhões híbridos. Quem puder, deve comprar um carro híbrido.Ou usar combustíveis menos danosos, como álcool ou biodiesel e carros mais econômicos. Optar sempre que possível pelo metrô ou pelo transporte público.

Os brasileiros devem preservar as florestas e matas ciliares a qualquer custo.  Plantemos árvores, muitas árvores. Investir em empresas de reflorestamento, ganhando com isso e ajudando as ONG que reflorestem.

Vote em políticos que se comprometam a resolver essa crise. Escreva ao congresso. Cobre dos governantes para que o país invista na redução e captura das emissões de CO2 e que se una aos esforços internacionais para deter o aquecimento global.

Muitas outras medidas podem ser encontradas no sítio eletrônico (em inglês) do filme www.climatecrisis.net. Muito a se fazer em pouco tempo, porém temos as tecnologias e temos outras lutas já vencidas a servirem de exemplo, a saber, a poliomielite, o DDT e o CFC. Então, mãos à obra.

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