Coleta de água no deserto

    Todo dia, trafego pela rodovia Tamoios e isso permite-me testemunhar um fenômeno inesperado: o desaparecimento da Represa de Paraibuna. Em várias pontes, não vejo mais água. E isso que testemunho é uma amostra do que está acontecendo no Brasil. Todas as termelétricas estão em operação para poupar as represas e mesmo assim a situação piora.
    A primeira vez que ouvi dizer que o centro-oeste e o sudeste do Brasil virarão um grande deserto foi no próprio INPE em 2007. E isso ocorrerá devido ao desmatamento da Amazônia. Desde então tenho escrito a respeito, procurado alertar nossa sociedade para o perigoso futuro que estamos construindo.
    Desde que essa seca começou no ano passado, empenhei-me em convencer os assessores da presidente e alguns ministros de estado para financiarem algumas iniciativas, como a coleta de água de chuva e coleta de energia solar “grid-tie”. Considerando que o povo brasileiro é bom pagador e há muita gente que gostaria de investir nisso, não entendo o porque do governo prefere dar dinheiro para Cuba, mas não emprestar aos brasileiros.
    Enquanto tentamos convencer nossos políticos, outras iniciativas aparecem no mundo e que deveriam nos interessar. Uma boa ideia é extrair água do ar. A umidade do ar é uma boa fonte, mesmo no deserto. Observe que uma umidade relativa de 60%, que é a média mundial, um metro cúbico de ar, a uma temperatura de 30º C, tem 18 gramas de água. Parece pouco, mas um besouro da Namíbia (Stenocara gracilipes) vive em áreas desérticas, durante a noite, o pequeno inseto coleta o sereno em suas costas, gotículas que fluem pelo seu corpo, unindo-se até formar gotas grandes que chegam até a sua boca.
    Pensando nas dificuldades que testemunhou na Etiópia, o arquiteto italiano Arturo Vittori projetou uma torre que capta o vapor de água atmosférico. Com uma estrutura extremamente simples feita de bambus ou talos de juncos, forrada com uma malha de plástico que capta as gotículas de orvalho, que escorrem até uma bacia, captando até 30 litros de água por noite. A torre custa US$ 550 e quatro pessoas a constroem em uma semana, um poço com bomba elétrica custa 20 vezes mais.
    Já Joseph Cory, do Instituto Technion de Israel, construiu seu coletor como uma série de painéis montados em forma de pirâmide invertida. Esse coletor de umidade mede 30 metros quadrados e consegue capturar até 48 litros de água potável por dia. Cory inspirou-se nas folhas das plantas que coletam o orvalho. O formato de pirâmide invertida evita perda de água, já que a água vai para o reservatório por gravidade, além de simplificar o projeto.
    Outro projeto foi feito por Helen Yang, da Universidade de Eindhoven, Holanda, em colaboração com colegas da Universidade Politécnica de Hong Kong. Ela fez um revestimento sobre fibras de algodão, permitindo que o material absorva uma quantidade excepcional de água a partir da umidade do ar, mais de quatro vezes o seu peso. O tecido libera a água coletada assim que esquenta um pouco, ou seja absorve a umidade da noite e libere a água assim que o Sol aparece.
    E Brasil? Pouco faz, né? Acredito que o BNDES deveria financiar os painéis solares e cisternas e investir também nas torres de ventos descendentes, que resfria o local, umedece e gera energia. Melhor? Impossível!

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