Uma política para os erros médicos

Publicado em  abril de 2000

 

Uma grande preocupação dos norte-americanos são os erros médicos. O Instituto de Medicina calcula que o número de mortes provocadas por erros médicos esteja entre 44.000 e 98.000. A estimativa varia devido ao grande segredo que se faz em torno do assunto.

O Hospital dos Veteranos, no Kansas (EUA), resolveu colocar etiquetas com códigos de barras nos seus pacientes para assegurar que eles recebam os medicamentos corretos. Já no Hospital Los Angeles, os pacientes que têm dificuldades para se manter de pé recebem uma pulseira laranja para alertar a equipe e prevenir possíveis quedas.

Em Minneapolis, os médicos não fornecem as dosagens de medicação para enfermeiros oralmente pois constataram que os enfermeiros cometiam muitos erros na dosagem.

E, agora, os hospitais norte-americanos estão tentando implantar um novo processo de proteção aos pacientes. Querem acabar com os erros médicos! E são muitos: uso de drogas erradas, pacientes com vertigem que vão ao banheiro sós, médicos que não checam cuidadosamente os resultados de exames que indicam câncer, infecções causadas por enfermeiros que não lavaram adequadamente suas mãos, cirurgias malfeitas. Que coisa!

Muitos dos erros médicos podem ser evitados se os hospitais analisarem os padrões dos seus problemas. Porém, por medo de serem processados ou despedidos, os profissionais da saúde freqüentemente recusam-se a revelar os erros cometidos. Livram-se da demissão e dos processos e os hospitais, sem conhecer os verdadeiros problemas em seus procedimentos, continuam a matar pacientes.

Os 172 Hospitais dos Veteranos dos Estados Unidos da América implantaram um novo programa para erradicar o erro médico de suas instituições. É um programa baseado na indústria norte-americana que permite aos pilotos relatarem os fatos sem medo de serem punidos. Assim, as informações adquiridas podem ser utilizadas para se ter vôos mais seguros.

É uma mudança, a começar pela ocidental pergunta: de quem é a culpa? Não se está interessado em um culpado, em quem, mas no que aconteceu, por que aconteceu e como se pode evitar a repetição no futuro. O responsável por essa mudança é o Dr. James Bagian, astronauta e médico, que foi o responsável pela instalação de escape no Space Shuttle, tornando-o mais seguro.

Como a perda do emprego é a conseqüência para quem ousa a falar, há um silêncio letal (para todos nós). Assim, as garantias oferecidas são essenciais para os profissionais falarem aberta e honestamente sobre o que aconteceu de errado e o que precisa ser feito para que não se repita. Após o relato, um grupo de especialista analisa o problema e propões alternativas para que o problema não se repita.

As soluções encontradas pelos hospitais estão produzindo bons resultados. Depois que o Hospital dos Veteranos do Kansas introduziu o código de barras, os erros de medicação caíram 64,5%. Custou 30 milhões de dólares, porém salva vidas.

Para evitar os erros de (má) grafia das prescrições médicas, muitos médicos estão utilizando o computador. É a salvação para aqueles que não tem jeito com a caneta. Sorte dos pacientes que eram vítimas dos erros.

O Dr. Lucian Leape, da Universidade de Harvard, já havia notado que simplesmente alertar os funcionários sobre os perigos dos procedimentos errados não basta. É preciso reavaliar os procedimentos e esse enfoque, para o Dr. Leape, é bastante inovador. Para ele, o ser humano é falho e os erros médicos só serão minimizados se estudados seriamente.

Enquanto a idéia alastra-se por lá, por cá ainda estamos com as pedras nas mãos sempre na busca dos culpados. Talvez devêssemos aproveitar a idéia e aplicá-la em nossas famílias, empresas, igrejas... Quem sabe, a esperança é a última que morre!

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