O exemplo de Champollion

    Em 1.801, o governador da província de Isere, o famoso cientista Joseph Fourier, durante uma inspeção de rotina nas escolas, descobriu um garoto excepcional de apenas onze anos, Jean François Champollion. A inteligência do rapaz e sua inclinação para as línguas impressionaram os seus mestres e também Fourier. O próprio cientista apresentou ao jovem os artefatos que iriam determinar o futuro de sua vida.
    Fourier, como outros cientistas, participou das expedições de Napoleão pelo oriente médio. Fourier tinha a função de catalogar os monumentos astronômicos do Egito antigo. Era um trabalho exaustivo já que os franceses saquearam o Egito. Fourier editou um livro ilustrado sobre a expedição.
    O garoto Champollion ficou fascinado com os artefatos daquela cultura perdida e estranha. Ficou estupefato com os hieróglifos, assim como todos os franceses de então. Toda a laia de especuladores e amadores, que se achavam cientistas, havia proposto explicações para aquela escrita "alienígena", como fazem os ufólogos de agora. Uns chegaram a propor que a China havia sido colonizada pelos egípcios. Leigo só estraga a pesquisa do desconhecido.
    Os indecifráveis hieróglifos tornaram-se a obsessão de Champollion. Estudou muito e tornou-se um grande lingüista. E acabou por decifrar brilhantemente aqueles hieróglifos. Aliás, a própria palavra hieróglifo não tinha o significado conhecido até Champollion e quer dizer "incisões sagradas". E como conseguiu ter sucesso nessa empreitada? Usando lógica, bom senso e muito conhecimento lingüístico.
    Havia uma pedra chamada Roseta (na ignorância de árabe os franceses entendiam dessa forma o nome Rashid, cidade localizada no delta do rio Nilo onde a pedra foi encontrada em 1799 por um soldado francês). Nessa pedra havia um texto escrito em grego e em hieróglifo egípcio sobre a comemoração da coroação do rei Ptolomeu V no ano 196 AC. Champollion contou o número de letras gregas e de hieróglifos. Como havia mais hieróglifos, ele concluiu que deveriam ser letras e sílabas.
    Assim, bastou localizar as palavras gregas aos respectivos grupos de hieróglifos. Essa presença de espírito fez Champollion ter sucesso onde outros falharam. Em 1.828, ele subiu o Nilo para Dêndera à procura do templo de Karnak, que foi construído ao longo de dois mil anos. Sua percepção permitiu que uma cultura emudecida por dois mil anos se revelasse e nos transmitisse sua história, sua medicina, sua religião, sua política e sua filosofia. Também sua economia, soube-se que por mais de mil anos os preços não subiram, que fantástico... Talvez nossos economistas devessem estudar egiptologia.
    A mesma sorte não tiveram os Maias, o único povo americano a dominar a escrita. Quase todos os seus livros foram destruídos por padres insensíveis à história. Perdemos todo o seu conhecimento. E o que sobrou é de difícil interpretação. Sabemos que foram magníficos astrônomos e matemáticos observando suas obras arquitetônicas e seus observatórios celestes. Os Maias e os egípcios nos deixam um legado: que tudo passa rápido e pode ser perdido se não valorizamos a educação e a justiça social.
    ---> Faça o que Carl Sagan desejava, divulgue o conhecimento, compartilhe com seus amigos!

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