Um Nobel já criticou o ensino brasileiro

    Desde que me conheço por gente, escuto críticas ao sistema educacional brasileiro. Lendo o livro “Are you kidding, Mr. Feynman?” de Richard Feynman, descobri que esse ganhador do Prêmio Nobel ensinou por aqui entre 1951 e 1952 e fez duras críticas ao sistema de ensino... E mesmo assim, nada mudou!
    No fim do ano letivo, os alunos pediram ao cientista que fizesse uma conferência sobre sua experiência de ensinar no Brasil. Ali foram os estudantes, professores e funcionários do Governo. Feynman entrou com o livro de Física Elementar que usavam no primeiro ano da Faculdade, livro visto como muito bom. Aliás, o autor estava na plateia.
    Após definir a Ciência como uma compreensão do comportamento da natureza, explanou sobre a utilidade da ciência e sobre a sua contribuição para o melhoramento da condição humana. Dito isso, arrematou a introdução: “o principal objetivo da minha conferência é demonstrar que no Brasil não se ensina nenhuma ciência!”
    No Brasil, decoram-se os conceitos, mas não se entende o que as palavras decoradas dizem. Então, pegou o livro de Física Elementar e disse que não se mencionam resultados elementares em nenhum lugar deste livro, exceto num lugar em que há uma bola descendo por um plano inclinado e onde se diz que distância percorreu ao fim de cada segundo. Os números têm “erros”, parecendo resultados experimentais. O problema é que, quando se calcula o valor da aceleração a partir desses valores, obtém-se a resposta “correta”. Mas uma bola descendo por um plano inclinado tem uma inércia ao rodar, e, se fizer a experiência, o resultado será cinco sétimos da resposta correta, devido à energia necessária para a rotação da bola. Portanto, nem o autor, nem os alunos jamais fizeram a experiência.
    Abriu de novo o livro ao acaso, mostrando confiança ao afirmar que o livro estava todo cheio de falhas, e encontrou o conceito: Triboluminescência, é a luz emitida quando os cristais são esmagados... Perguntou aos ouvintes: “e aqui, temos ciência? Não! Pois o livro diz o significado de uma palavra em termos de outras palavras. Não disse nada sobre a natureza dos cristais que produzem luz quando os esmagamos, porque produzem luz. Viram algum estudante ir para casa e experimentar? Nenhum pode. Mas se, em vez disso, escrevessem: 'Quando tomamos um torrão de açúcar e o esmagamos com um alicate no escuro, vemos um clarão azulado. O fenômeno chama-se triboluminescência. Então, alguém irá para casa experimentar.
    Por fim disse que não concebia que alguém pudesse ser educado por este sistema no qual as pessoas passam em exames e ensinam outras a passar em exames, mas ninguém sabe nada. Porém, o professor mostrou dois alunos muito bons apesar disso tudo.
    Então aconteceu uma coisa totalmente inesperada para Feynman, um daqueles alunos bons levantou se e disse que não fora educado no Brasil, mas na Alemanha. E o outro aluno disse que fora educado no Brasil durante a guerra, quando, felizmente, todos os professores tinham deixado a Universidade, ou seja, aprendeu tudo só por meio de leitura. Concluiu o cientista: não esperava aquilo, sabia que o sistema era mau, mas cem por cento, era péssimo!

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