Progressão e regressão do coronavírus

 

Demorou 60 dias para termos 20 mil mortos e os matemáticos dizem que em 13 dias vai chegar a 40 mil? É claro que não! Será?

 

Muita gente ainda não entende o que seja progressão geométrica. Progressão geométrica é quando em uma sequência numérica, cada termo é igual ao produto do termo anterior por uma constante. Por exemplo, a poupança, antigamente, pagava 6% ao ano, ou seja, a razão é 1,06. Nesta razão, o capital aplicado dobrava a cada 12 anos. Se fizéssemos a conta por mês, a razão seria 1,00487 (ou 0,487%). E qual é a razão da progressão geométrica da Covid-19 no Brasil nas últimas semanas?

 

Antes uma lembrança. Certa feita, talvez na oitava série, em 1976, um aluno inquiriu o nosso professor Nelson Pires, professor de Matemática muito bem quisto em Catanduva, para que serviria a Progressão Geométrica em nossas vidas ordinárias e ele respondeu que um dia saberíamos a utilidade. Esse dia chegou e é hoje!

 

Se observarmos as mortes diárias veremos que é uma progressão geométrica. No dia 08/05, morreram 9.897 brasileiros, praticamente dez mil, e 13 dias depois dobrou esse número, ou seja, no dia 21/05, foram 20.047 mortos pela doença, então, esperamos para o dia 03/06, 40 mil mortos... Explicado está para quem não entendeu que demorou 60 dias para chegar a 20 mil mortes e em somente 13 dias chegará a 40 mil. E se o isolamento social não aumentar, no dia 16/06 teremos 80 mil mortos.

 

Agora, vem a parte mais difícil ainda de entender: o decaimento exponencial, um conceito comum na Física moderna, chamado de decaimento radioativo. Lembremo-nos do Carbono-14, ele tem uma meia-vida de 5.730 anos, o que significa isso? Significa que se tivermos 1 kg de C14, depois de 5.730, metade virou carbono comum, o C12, restando apenas 0,5 kg de C14. Assim vai acontecer com a covid-19.

 

Se na progressão geométrica contávamos os dias para duplicar o número de contaminados e mortos, na regressão geométrica contamos o quanto tempo passará para o número de mortos cair para a metade. Isso vai causar uma falsa sensação de vitória sobre o coronavírus, porque a mente humana raciocina linearmente na queda também.

 

Se o Brasil decretar o confinamento (lockdown) com 1.200 mortes por dia, em média, em duas semanas, deve cair para 600 mortes, e em duas semanas depois, cairá para 300. Isso vai causar a impressão que em mais duas semanas venceremos a guerra... Mas chegaremos a 150, depois, 75, 34, 17, 8, 4, 2, 1... Quatro meses depois.

 

É claro que a curva do decaimento cai mais depressa conforme as pessoas entendem que precisa não fazer o afastamento, mas o isolamento social.

 

E esse é o ensinamento que extraímos da China, Itália e Espanha: quanto mais tempo demorar a começar, muito, mas muito mais tempo demorará a vencer está guerra. O custo sobe exponencialmente também, quanto mais tempo demorar a convencer o povo, muito mais, mas muito mais caro ficará.

 

Isso deixa claro porque uma liderança ruim que não entende isso conduz o país à catástrofe. Considerando que cerca de 30% da população estejam trabalhando, a “desobediência” é de 20% da população, ou seja, em nada intimidam governadores e prefeitos. Que tal resolver de vez o problema?

 

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