Tecnologia e o primeiro satélite brasileiro

 No dia 9 de fevereiro de 1993, o Satélite de Coletas de Dados (SCD-1) era lançado pelo foguete Pegasus, um foguete que não sai do chão, mas da asa de um avião, o primeiro do Brasil. E, na verdade, uma fantástica história de sucesso da tecnologia nacional.

 

Eu fui contratado pelo INPE em 9 de outubro de 1985, já era o início do esforço do governo em recuperar as equipes e os salários para que o projeto fosse feito. Tudo era preliminar, por exemplo, concebiam um satélite estabilizado por mastro (pesquisem, é interessante), mas optou-se por giro, como um pião. No meu grupo, de computação (supervisão) de bordo, projetamos dois computadores com funções diferentes. Eu fiquei responsável pelo desenvolvimento do software e dos testes do computador e satélite.

 

O INPE foi meu primeiro emprego, não o único. Aventurei-me como microempresário, professor (ITA, Unitau, IMES), mas no INPE aprendi a fazer tecnologia de ponta. Tive que fazer cursos para trabalhar com qualidade, testes, verificação, validação, área limpa, câmara acústica, câmara de vácuo etc.

 

Em 1988, já tínhamos os modelos de qualificação prontos para serem maltratados pelos testes. Nesse período, começaram a fabricar os modelos de voo e começamos a testar os equipamentos do SCD-2.

 

O Brasil entrou em crise em 1990, esfriando os projetos até julho de 1992, quando o governo federal liberou o orçamento. Originalmente, o satélite seria lançado por um foguete brasileiro, o VLS, que não teve sucesso nos testes. Então, foi assinado o contrato com a empresa norte-americana Orbital Sciences Corporation (OSC), em 20/08/92, para o lançamento do SCD-1 com o foguete Pegasus. Esse foguete inovou o modo de lançar satélites, pois carregava o foguete na asa de um avião B-52 e disparando-o a uma altura de 13 km.

 

Em julho, eu estava de férias, quando recebi um telefonema do Carlos Santana, gerente da Missão Espacial, estava informando que ele cancelara minhas férias e que eu deveria desenvolver um equipamento portátil de comunicação (telemetria e telecomando) para testar o satélite na integração com o foguete e no avião na pista de decolagem. O equipamento do INPE, comprado por 400 mil dólares da época, era muito grande. Três colegas tecnologistas fizeram o equipamento eletrônico e eu desenvolvi o software em apenas dois meses.

 

Finalmente, em 15 de novembro de 1992, embarcamos para os Estados Unidos da América para integrar o satélite no foguete. O Pegasus ficava em uma área da NASA, na Base de Edwards, deserto de Mojave, Califórnia. O foguete apresentou problemas e, no dia 7 de dezembro retornamos ao Brasil.

 

Voluntariei-me para ir para a Base Espacial de Alcântara, de onde acompanhamos e tive o privilégio de ser o primeiro a comandar o SCD-1. No dia seguinte, 10 de fevereiro de 1993, recebemos a visita do Estado Maior que estava reunido em Alcântara. Chegaram com seus uniformes chiques e imponentes... Porém, o ar condicionado da Antena tinha quebrado e a temperatura que estávamos suportando era de 50 graus Celsius. Eles não aguentaram dez minutos, mas nós estávamos fazendo História!

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