Pais divididos, filhos em perigo

Publicado em abril de 2000


O ser humano é um ser social, mas nem por isso consegue conviver sem problemas, e resolver esses problemas é difícil. Talvez o maior gerador de conflitos sociais seja a família, o casamento (ou ajuntamento, também). Por outro lado, pode ser também a maior expressão humana da união, do amor, da realização, da felicidade.

De fato, nascemos programados para nos preservar a nossa espécie e o que fazemos para isso é recompensado com prazer e felicidade. Assim, somos propensos à grandes paixões, capazes de durar a vida toda, e de desenvolver um grande amor. É impossível disfarçar, nossas pupilas dilatam-se ao vermos quem amamos ou desejamos a companhia. Diante de tantas sensações agradáveis, custa crer que os que se amam mudem a ponto de ter divergências intransponíveis.

É o que acontece! Os pais, às vezes diferem sobre a disciplina e  sobre os trabalhos escolares. Porém, quando o pai e a mãe não concordam com um tratamento médico da criança, as conseqüências podem ser críticas.

Porém, quando as diferenças nascem de convicções pessoais ou religiosas, a medicação ou cirurgia das crianças são da maior importância, um consenso deve ser encontrado. De outra forma, as crianças que sofrem alguma enfermidade, desde hiperatividade até câncer, sofrerão e sofrerão ainda mais, uma vez que precisam de apoio e estabilidade emocional. Em geral, o divórcio acirra ainda mais as divergências e o compromisso com a saúde da criança. Incrível! Egoísta!

Alguns pais conseguem manter o interesse da criança e resolver suas diferenças. Mas quando a intransigência é insuperável, a criança precisa ser “adotada”. Assim, médicos, enfermeiras, assistentes sociais, capelães, e conselhos de ética precisam estar certos que as necessidades da criança doente foram atendidas.

Nos Estados Unidos da América, os hospitais entram cedo em contato com as famílias para evitar discordâncias prolongadas que possam retardar ou prejudicar o tratamento da criança. As famílias dividem-se mais comumente quando o tratamento é para problemas de comportamento ou neurológico, como hiperatividade, autismo e depressão. Muitos pais tendem a negar os problemas e questionar os médicos.

O consenso torna-se difícil quando as diferenças são de origem religiosa. Um exemplo é o impedimento de transfusão de sangue dos Testemunhas de Jeová. Outra dificuldade de consenso está nos tratamentos de longo prazo, dolorosos e de resultado nem sempre bem sucedido. No limite da morte, um dos pais podem desejar experimentar um tratamento novo ou alternativo. E essa opinião deve ser respeitada.

Quando a família permanece dividida e toda as negociações superadas, uma corte judicial pode resolve o dilema. Quando a justiça é rápida o suficiente, claro! O correto é não chegar a esse ponto, porém a intransigência pode não ser racional e a decisão externa isenta o outro cônjuge da culpa e, consequentemente, de mais tensão entre eles.

O consenso, não só para o tratamento dos filhos, é conseguido se constantemente exercitado na “lei” do amor e do respeito. O amor, como o ódio, é cultivável e cresce com o tempo. Depois, colhe-se o que se planta! Quem semeia vento, colhe tempestade! Quem semeia e cuida de sua árvore frutífera come um saboroso fruto (no bom sentido... em qualquer outro também). A sua felicidade e alegria pessoal depende mais de você do que do outro, portanto... Ame! E viva!

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