Internet e evolução

Publicado em agosto de 2003  

 

O frágil hominídeo desceu da árvore e habitou a terra. Vivia em grupo e para organizar-se desenvolveu uma linguagem por sinais e oral. Inventou a comunicação, que é troca de informações entre pessoas. E que informação trocar? Para isso discriminou e nomeou tudo o que estava a sua volta, plantas, animais, táticas, comandos, armas, ferramentas, situações. Criado o substantivo, criou o verbo, que é o descritor de uma ação, e o adjetivo, que designa a qualidade.

A necessidade de saber a quantidade de suas posses desenvolveu os números e a capacidade de contar. Inicialmente, utilizava pedrinhas e, depois, contas que viraram o ábaco, instrumento de cálculo até hoje utilizado no Japão para se ensinar aritmética. Um japonezinho é mais rápido fazendo conta com o ábaco do que qualquer um de nós utilizando calculadora.

A invenção da escrita há uns milhares de anos revolucionou a humanidade pois, pela primeira vez, o conhecimento podia passar para as próximas gerações sem depender da falha memória humana. Livre das limitações humanas, o conhecimento escrito pôde ser acumulado e aperfeiçoado.

Aos poucos o homem foi descobrindo as leis da natureza e como transformar esse conhecimento teórico em algo prático, nascia a tecnologia. Ferramentas e armas fizeram-no senhor dos animais. Apareceram os livros escritos em tabuinhas de argila, rolos de pergaminhos, papiro, paredes... Vieram as escolas e as bibliotecas, a técnica da informação.

Os livros eram manuscritos (à mão mesmo) até o século 15. Os livros eram jóias raras, fontes de conhecimento restrito a poucos, bem retratado no filme "O Nome da Rosa". Quando Gutemberg criou os impressão por tipos móveis, em 1.450, até então havia alguns milhares livros, cinqüenta anos depois já havia 10 milhões de livros impressos.

O conhecimento espalhou-se e cresceu. Desenvolveu-se o cálculo. Um jovem universitário, Isaac Newton, refugiado em uma fazenda por causa de uma peste, descobriu a Teoria da Gravitação e inventou o cálculo diferencial e integral. Ele inventou ainda jovem e o que nós, velhos, temos grande dificuldade em aprender. Outros vieram. Para facilitar os cálculos, inventou-se a tabuada, a tabela de logaritmos, seno e tangente, e diversas outras de cálculo. Enfim, a calculadora mecânica foi inventada.

Em 1946, foi criado o primeiro computador eletrônico à válvula, o ENIAC. Encontrou uso comercial. Após a invenção do transístor e depois dos circuitos integrados houve o barateamento dos computadores até chegarmos aos computadores pessoais, PC.

Com o surgimento da Internet, temos uma grande biblioteca por todo o planeta. Qual será o impacto em nossas vidas? Apenas para termos uma idéia do que aconteceu: a natureza criou o DNA (ácido desoxiribonucléico), que é uma biblioteca pois contém toda informação para o ser vivo perpertuar-se, ou seja, alimentar-se e reproduzir-se. Se considerarmos um bit um dígito de informação, no DNA de um vírus encontraremos armazenados cerca de dez mil bits, o equivalente a uma página de um livro, é toda informação que o vírus precisa para infectar e reproduzir-se.

Uma bactéria tem um milhão de bits ou cem páginas impressas. Uma ameba tem 400 milhões ou 80 livros de 500 páginas. O DNA do ser humano tem cinco bilhões de bits ou mil livros.

Porém o DNA não se altera, é rígido, assim, chegando ao limite, a evolução criou o cérebro, que é capaz de armazenar dez trilhões de bits ou 20 milhões de livros. A seguir, criamos a escrita e as bibliotecas, a de Nova York tem o equivalente a cem trilhões de bits. Muitos livros para ler. O  segredo é escolher o que ler.

Quantos bits têm a internet? Com certeza isso é incalculável. Uma vez que o conhecimento cresce exponencialmente e cada descoberta desencadeia novas outras. E, antes que se produzam livros, esse conhecimento já está disponível na internet. Daqui alguns anos poderemos ter uma idéia do que aconteceu.

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